1.26.2014

ESPERA


 

 

Personagem sentado em frente a um aparelho semelhante ao micro-ondas – silencio e prazer acompanhados com sons de campainha de porta e de preparo de micro-ondas.

Congelamento – blackout

As cenas sobrem interferências sonoras.

Personagem entra em cena, desconfiado.  Tenta falar, balbucia algo. Pega a cadeira senta-se de frente para o aparelho. Incomodado vira-se para o publico. Acende um cigarro lentamente. Fuma. Apaga o cigarro. Inicia a roer unhas. Para olha para o objeto. Fica de costas.

(O ator deverá ter bem claro o incomodo do objeto que passou a fazer parte de sua rotina, com interferências em seus pensamentos, em seus diálogos, na leitura de seus livros. é o incomodo de ter o outro invadindo seu espaço vital sem ser convidado. O ator poderá também acrescentar seus incômodos pessoais.) O ator pode estender bem o tempo.

Personagem - Com um impulso interno levanta-se para sair.

“Nada”

Antes de sair o som do objeto interrompe seu objetivo.

Parado por uns instantes. Acende outro cigarro. Encara o objeto e o desafia com o olhar.

“O endereço? O que você quer de mim?”

Silencio. Conversa tumultuada.

“Ela me observava no… (som do aparelho),

Aquela outro era bem leg… (som do aparelho),

tem um que é importante, mas não sei...(som do aparelho)

Poderia ser aquele que sempre sonhei… não… não é just…(som do aparelho)”

Lentamente o personagem levanta-se buscando em sua mente endereços perdidos. Raiva da insistência do aparelho. Digitação sem olhar. afasta-se lentamente.

“Não tem como cancelar... eis o que pedes a meses...”

Personagem lentamente ajeita a cadeira de frente para o publico, afastado do aparelho, sem perdê-lo de vista. senta-se. acende um cigarro. traga uma ou três vezes... desenhando a fumaça... levanta olha para a janela, volta a sentar, roem as unhas, volta até a janela.

Repete as ações um pouco  mais rápido, até a ultima ação. Pausa.

Repete mais rápido e depois mais rápido. Pausa.

“ Manual!”

Sai de cena alguns segundos. Sons de procura. Falas distorcidas... antes da entradas.

“Gavetas... armários, colchão… lixo… lixeiro… não… mãe… pai… santos?”

Retorna arrasado, arrumando-se. Senta-se cabisbaixo.

Emprestei para aquele…”

Acende um cigarro continuando a fala e balbuciando coisas não audíveis.

Reinicia as ações anteriores lentamente entre um pensamento e outro, interrompido pelos sons do aparelho. As ideias não podem ser concluídas. Podendo ter experiências e vivencias do ator.

“ Deveria ter comprado o… “ Acende o cigarro

“Aquela carta dela foi tão…” vai até a janela

“Ainda não consertou essa…” som do aparelho

“… sinto tanta falta… senta-se e roem unhas

Era minha preferida…” Vai até a janela

Som do aparelho.

 

Movimentos podem ser repetidos varias vezes. Senta em silencio. O aparelho dá sinal de pronto. O personagem assusta, levantando repentinamente, com as pernas bambas. Olha o aparelho aflito. Inicia o impulso de ir até o aparelho ver o resultado. A campainha da porta toca. Outro susto. Senta-se extasia. Pensamento confuso. Respira fundo. Acomoda-se na cadeira, acende outro cigarro. Sorri satisfeito pela nova rotina de sua casa.

Blackout.
BlueNight

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