Personagem sentado em
frente a um aparelho semelhante ao micro-ondas – silencio e prazer acompanhados
com sons de campainha de porta e de preparo de micro-ondas.
Congelamento –
blackout
As cenas sobrem interferências
sonoras.
Personagem entra em
cena, desconfiado. Tenta falar, balbucia
algo. Pega a cadeira senta-se de frente para o aparelho. Incomodado vira-se
para o publico. Acende um cigarro lentamente. Fuma. Apaga o cigarro. Inicia a
roer unhas. Para olha para o objeto. Fica de costas.
(O ator deverá ter bem
claro o incomodo do objeto que passou a fazer parte de sua rotina, com
interferências em seus pensamentos, em seus diálogos, na leitura de seus
livros. é o incomodo de ter o outro invadindo seu espaço vital sem ser
convidado. O ator poderá também acrescentar seus incômodos pessoais.) O ator
pode estender bem o tempo.
Personagem - Com um
impulso interno levanta-se para sair.
“Nada”
Antes de sair o som do
objeto interrompe seu objetivo.
Parado por uns
instantes. Acende outro cigarro. Encara o objeto e o desafia com o olhar.
“O endereço? O que
você quer de mim?”
Silencio. Conversa
tumultuada.
“Ela me observava no…
(som do aparelho),
Aquela outro era bem
leg… (som do aparelho),
tem um que é
importante, mas não sei...(som do aparelho)
Poderia ser aquele
que sempre sonhei… não… não é just…(som do aparelho)”
Lentamente o
personagem levanta-se buscando em sua mente endereços perdidos. Raiva da
insistência do aparelho. Digitação sem olhar. afasta-se lentamente.
“Não tem como
cancelar... eis o que pedes a meses...”
Personagem lentamente
ajeita a cadeira de frente para o publico, afastado do aparelho, sem perdê-lo
de vista. senta-se. acende um cigarro. traga uma ou três vezes... desenhando a
fumaça... levanta olha para a janela, volta a sentar, roem as unhas, volta até
a janela.
Repete as ações um
pouco mais rápido, até a ultima ação.
Pausa.
Repete mais rápido e
depois mais rápido. Pausa.
“ Manual!”
Sai de cena alguns
segundos. Sons de procura. Falas distorcidas... antes da entradas.
“Gavetas... armários,
colchão… lixo… lixeiro… não… mãe… pai… santos?”
Retorna arrasado,
arrumando-se. Senta-se cabisbaixo.
“Emprestei para aquele…”
Acende um cigarro continuando
a fala e balbuciando coisas não audíveis.
Reinicia as ações
anteriores lentamente entre um pensamento e outro, interrompido pelos sons do
aparelho. As ideias não podem ser concluídas. Podendo ter experiências e
vivencias do ator.
“ Deveria ter comprado
o… “ Acende o cigarro
“Aquela carta dela
foi tão…” vai até a janela
“Ainda não consertou
essa…” som do aparelho
“… sinto tanta falta…
senta-se e roem unhas
Era minha preferida…”
Vai até a janela
Som do aparelho.
Movimentos podem ser
repetidos varias vezes. Senta em silencio. O aparelho dá sinal de pronto. O
personagem assusta, levantando repentinamente, com as pernas bambas. Olha o
aparelho aflito. Inicia o impulso de ir até o aparelho ver o resultado. A
campainha da porta toca. Outro susto. Senta-se extasia. Pensamento confuso. Respira
fundo. Acomoda-se na cadeira, acende outro cigarro. Sorri satisfeito pela nova
rotina de sua casa.
Blackout.
BlueNight
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